EDIÇÃO Nº 1 DEZEMBRO/1992LUIZ MENDES
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ARTIGO
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O CARTOLA NA BERLINDA
Eurico: 'Sem paixão o futebol acaba'

NOTA DA REDAÇÃO: Quase 20 anos se passaram desde que o dirigente Eurico Miranda, ex-presidente do Vasco da Gama, concedeu essa entrevista exclusiva ao Agito da Galera, então ainda exercendo o cargo de vice-presidente do clube, para a seção “O Cartola na Berlinda”. Em linhas gerais, o pensamento Eurico parece não ter mudado muito durante os anos. Já naquela época era contra o clube-empresa e favorável aos campeonatos regionais. Contudo, soa hoje meio irônica a afirmação do cartola, na época, de que só acreditava em dirigentes que “não ganham nada com o futebol”. Confira.
Às vezes temperamental – “se assumir meus atos e não ficar em cima do muro é ser polêmico, então sou polêmico” – o cartola Eurico Ângelo Miranda de Oliveira, 48 anos, carioca do Catete, casado, quatro filhos, mantém uma longa relação de amor e paixão com o clube da Colina. Há 24 anos no Vasco como dirigente (começou como diretor de cadastro na gestão de Reinaldo Reis), Eurico garante: “No dia em que a razão superar a paixão, o futebol acaba”.
O cartola ajuda ou atrapalha o futebol brasileiro?
- Se ele for amador, daqueles que não ganham nada com o futebol, que têm amor pelo clube, só ajuda. De maneira alguma este tipo de cartola atrapalharia o futebol. Sou frontalmente contra o cartola que é pago pelo clube. No Vasco da Gama, onde estou desde 1968, não acontece isto. Ninguém recebe salário do clube. Não existem mecenas no Vasco. Em outros clubes, sim. Cito o exemplo do Botafogo, onde a idéia não deu certo.
O senhor se considera um bom cartola?
- Deixo para as pessoas que militam no futebol julgar. Não cabe a mim ficar avaliando meu desempenho como vice-presidente do Vasco da Gama...
O senhor é considerado um dirigente polêmico, muitas vezes temperamental e que administra o futebol vascaíno com mão-de-ferro. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
- Se ser polêmico é assumir seus atos, não ficar em cima do muro, então, posso me considerar um dirigente polêmico. Quanto a ser temperamental, a necessidade de ser útil e fazer algo pelo clube que gosto me leva algumas vezes a me exceder. Em algumas ocasiões sou confundido com ‘brigão’. Entretanto, me considero uma pessoa tranqüila, voltada para a minha família.
O que representa o Vasco na sua vida?
- Uma paixão, uma enorme paixão. Tenho uma relação de amor com o clube pelo qual me identifico plenamente. A cultura do nosso futebol não permite que se separe o amor da paixão pelo clube. É o meu caso, além de dirigente, sou acima de tudo torcedor do Vasco da Gama. É claro que como dirigente a responsabilidade aumenta.
Qual é o caminho para o futebol brasileiro? O clube-empresa é a solução?
- É administrar o futebol brasileiro com mais seriedade. Principalmente por pessoas que conheçam a fundo os problemas do esporte. Que sejam do ramo. Não adianta colocar administradores, economistas, bons advogados, enfim, pessoas capacitadas mas que não entendam nada de futebol. O mesmo se aplica em relação à escolha dos assessores. Não podem ser pára-quedistas. Quanto à questão do clube-empresa, sou contrário à idéia. A nossa cultura é diferente da européia. Lá, o assunto pode vingar. Não se pode comparar um Vasco da Gama, um Flamengo com um clube italiano como o Milan, por exemplo. No Brasil transformar o clube em empresa termina como o Botafogo do Emil Pinheiro, que só visava o lucro. Tem que saber também administrar. O lucro não pode ser a finalidade principal. No dia em que a razão superar a paixão, será o fim do futebol.
E os campeonatos regionais?
- Sou inteiramente a favor dos campeonatos regionais. No Rio, brigo pelo mesmo número de clubes (12 no total) no campeonato de 1993. Considero uma vitória do Vasco sobre o Flamengo ou Botafogo mais importante do que vencer um Internacional ou Cruzeiro. É porque fica mais fácil ‘encarnar’ num torcedor que está próximo de nós do que pegar um avião e parar em Porto Alegre ou Belo Horizonte...
Como o cartola Eurico Miranda vê a relação torcida-futebol?
- A grandeza de um clube está diretamente ligada à sua torcida. A combinação amor-paixão é fundamental para o sucesso do esporte. Ainda existe aquela história da camisa... O que mais admiro é o torcedor anônimo do Vasco, não os ‘medalhões’. É o torcedor que comparece ao estádio, paga o ingresso – muitas vezes sem poder – do próprio bolso, incentiva e leva o Vasco a grandes conquistas, como foi o título estadual deste ano. A estes torcedores com os quais me identifico, eu rendo as minhas homenagens. São eles que ajudam o Vasco a ser cada vez mais gigante...
(Entrevista concedida com exclusividade ao repórter Eduardo Soares e publicada na edição nº 1 do jornal Agito da Galera, em dezembro de 1992)
Às vezes temperamental – “se assumir meus atos e não ficar em cima do muro é ser polêmico, então sou polêmico” – o cartola Eurico Ângelo Miranda de Oliveira, 48 anos, carioca do Catete, casado, quatro filhos, mantém uma longa relação de amor e paixão com o clube da Colina. Há 24 anos no Vasco como dirigente (começou como diretor de cadastro na gestão de Reinaldo Reis), Eurico garante: “No dia em que a razão superar a paixão, o futebol acaba”.
O cartola ajuda ou atrapalha o futebol brasileiro?
- Se ele for amador, daqueles que não ganham nada com o futebol, que têm amor pelo clube, só ajuda. De maneira alguma este tipo de cartola atrapalharia o futebol. Sou frontalmente contra o cartola que é pago pelo clube. No Vasco da Gama, onde estou desde 1968, não acontece isto. Ninguém recebe salário do clube. Não existem mecenas no Vasco. Em outros clubes, sim. Cito o exemplo do Botafogo, onde a idéia não deu certo.
O senhor se considera um bom cartola?
- Deixo para as pessoas que militam no futebol julgar. Não cabe a mim ficar avaliando meu desempenho como vice-presidente do Vasco da Gama...
O senhor é considerado um dirigente polêmico, muitas vezes temperamental e que administra o futebol vascaíno com mão-de-ferro. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
- Se ser polêmico é assumir seus atos, não ficar em cima do muro, então, posso me considerar um dirigente polêmico. Quanto a ser temperamental, a necessidade de ser útil e fazer algo pelo clube que gosto me leva algumas vezes a me exceder. Em algumas ocasiões sou confundido com ‘brigão’. Entretanto, me considero uma pessoa tranqüila, voltada para a minha família.
O que representa o Vasco na sua vida?
- Uma paixão, uma enorme paixão. Tenho uma relação de amor com o clube pelo qual me identifico plenamente. A cultura do nosso futebol não permite que se separe o amor da paixão pelo clube. É o meu caso, além de dirigente, sou acima de tudo torcedor do Vasco da Gama. É claro que como dirigente a responsabilidade aumenta.
Qual é o caminho para o futebol brasileiro? O clube-empresa é a solução?
- É administrar o futebol brasileiro com mais seriedade. Principalmente por pessoas que conheçam a fundo os problemas do esporte. Que sejam do ramo. Não adianta colocar administradores, economistas, bons advogados, enfim, pessoas capacitadas mas que não entendam nada de futebol. O mesmo se aplica em relação à escolha dos assessores. Não podem ser pára-quedistas. Quanto à questão do clube-empresa, sou contrário à idéia. A nossa cultura é diferente da européia. Lá, o assunto pode vingar. Não se pode comparar um Vasco da Gama, um Flamengo com um clube italiano como o Milan, por exemplo. No Brasil transformar o clube em empresa termina como o Botafogo do Emil Pinheiro, que só visava o lucro. Tem que saber também administrar. O lucro não pode ser a finalidade principal. No dia em que a razão superar a paixão, será o fim do futebol.
E os campeonatos regionais?
- Sou inteiramente a favor dos campeonatos regionais. No Rio, brigo pelo mesmo número de clubes (12 no total) no campeonato de 1993. Considero uma vitória do Vasco sobre o Flamengo ou Botafogo mais importante do que vencer um Internacional ou Cruzeiro. É porque fica mais fácil ‘encarnar’ num torcedor que está próximo de nós do que pegar um avião e parar em Porto Alegre ou Belo Horizonte...
Como o cartola Eurico Miranda vê a relação torcida-futebol?
- A grandeza de um clube está diretamente ligada à sua torcida. A combinação amor-paixão é fundamental para o sucesso do esporte. Ainda existe aquela história da camisa... O que mais admiro é o torcedor anônimo do Vasco, não os ‘medalhões’. É o torcedor que comparece ao estádio, paga o ingresso – muitas vezes sem poder – do próprio bolso, incentiva e leva o Vasco a grandes conquistas, como foi o título estadual deste ano. A estes torcedores com os quais me identifico, eu rendo as minhas homenagens. São eles que ajudam o Vasco a ser cada vez mais gigante...
(Entrevista concedida com exclusividade ao repórter Eduardo Soares e publicada na edição nº 1 do jornal Agito da Galera, em dezembro de 1992)