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EDIÇÃO Nº 1  DEZEMBRO/1992

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LUIZ MENDES
A Ressurreição 
do Botafogo

O tempo de Emil Pinheiro no Botafogo terminou. Passou como passa o vento. Sem nada a ver com a trilogia de Érico Veríssimo, O Tempo e o Vento.

O Botafogo havia deixado de ser um clube para ser um time. Emil Pinheiro se adonou de uma verdadeira legenda do esporte brasileiro, formada por duas caudais de glórias – o Botafogo de Regatas, vindo de 1894 por força de remadas próprias, e o Botafogo Futebol Clube, cuja arrancada se deu em 1904. As duas caudais se juntaram em 1942 e surgiu o grande Botafogo de Futebol e Regatas. A contribuição do primeiro foi aquela estrela maravilhosa e a do segundo a santa denominação de glorioso.

Parecia se repetir nos esportes aquela coisa fenomenal do encontro das águas amazônicas – o Rio Negro e o Solimões se juntando para formar o Amazonas, o maior rio do mundo.

De repente, porém, como se resíduos de agrotóxicos poluíssem essas águas imensas, alguns oportunistas foram entrando, mergulhando fundo e mudaram o curso do rio. E quando sentiram as águas envenenadas, se mandaram, como se fosse possível inverter a correnteza.

Penso, sinceramente, que vai ocorrer um milagre. As águas voltarão a ser puras e o rio vai correr pelo seu grande caminho com a predestinação legendária de seus fundadores.

Voltarão botafoguenses ilustres que haviam ido embora; entrarão outros que sempre quiseram entrar, como Theóphilo de Azeredo Santos – presidente do Sindicato dos Banqueiros (mas banqueiros de Banco mesmo!) e Nelson Muffarredi, gente importante, com condições de aglutinar pessoas de seu próprio nível para levantar um clube tradicional, chamando para pegar junto a grande torcida botafoguense.

Eu espero que tudo seja o renascer de um clube que havia virado apenas um time. Uma ressurreição!


(Coluna publicada na edição nº 1 do Agito da Galera, em dezembro de 1992, página 3)

ARTIGO
Torcedor não gosta de 
viver perigosamente

NOTA DA REDAÇÃO: Utilizando uma linguagem romanceada e sarcástica, o jornalista Valterson Botelho alertava, neste artigo especialmente escrito para o Agito da Galera, em fins de 1992, sobre o problema da violência dentro e fora dos estádios que afugentava o torcedor –  e a família – dos eventos esportivos. Com a experiência de freqüentador assíduo do Maracanã, de quem conheceu alguns dos maiores e melhores estádios do planeta em suas andanças pela Europa e nas várias Copas do Mundo que acompanhou e, ainda, com a vivência de delegado de polícia dos mais brilhantes, o autor nos coloca frente a frente com uma realidade que muito pouco mudou nesses quase 20 anos.

Valterson Botelho *
  Vários são os fatores que têm afastado o torcedor dos estádios. A falta de dinheiro é a principal delas e, aqui, somam-se outros como o baixo nível técnico dos jogadores, calendário elaborado por cartolas pouco inteligentes, estádios sem o mínimo conforto, etc., etc. O caro leitor pode pensar que esqueci do fator violência, mas não, pois este é o tema principal deste comentário.
  Assistir a um jogo ao vivo (digo ao vivo porque a TV leva à sua casa vários jogos diariamente) é hoje uma grande aventura. Se você vai de carro, é difícil encontrar área de estacionamento; quando encontra vaga é obrigatoriamente achacado por um “flanelinha” que não cuida do seu automóvel. Ao contrário. Sorte sua se encontrar o carro na volta. Se vai de ônibus você pode ser assaltado na ida e (ou) também na volta, fora os mesmos riscos ao entrar ou sair do estádio, seja em clássico de multidões ou em jogos de pouco público.
  Dentro do estádio, se o torcedor com a camisa de seu clube, por descuido e também por falta de sinalização ou informação, entra no setor onde está a torcida adversária, aí o massacre é total.
  Se até aí tudo correu bem, ao entrar o seu time em campo, um foguete pode lhe cegar a vista ou estourar-lhe os tímpanos, em ambos os casos com seqüelas irreversíveis. E durante a partida, a qualquer momento, pode eclodir uma “guerra” entre as torcidas e você se ver no meio de um combate de fazer inveja a qualquer filme do Rambo, até mesmo porque há arma de fogo nessa briga. Ainda tem a arquibancada que pode despencar ou um reboco da cobertura cair-lhe sobre a cabeça.
  E mais: muitas vezes o torcedor paga ingresso para assistir a um espetáculo de futebol e acaba mesmo é presenciando um festival de agressões dos jogadores entre si e contra árbitros e bandeirinhas, isto sem contar as invasões de campo, cujas conseqüências são imprevisíveis.
  Se nada disso ocorrer, ótimo. Mas não tenha uma dor de barriga, porque banheiro usável não há.
  Com tudo isso, o torcedor na sua grande maioria prefere ver um jogo na TV. E deixa de levar o seu filho, irmão menor, esposa ou namorada ao estádio, o que é importantíssimo para a sobrevivência do futebol.
  Todo esse problema não é um privilégio nosso. Existe também nos mais avançados países do primeiro mundo e, em alguns pontos, de forma mais contundente.
  Este é um diagnóstico de quem freqüenta os estádios há décadas.

* Valterson Botelho é jornalista, colunista esportivo do Teresópolis Jornal e delegado de polícia

(Artigo publicado na edição nº 1 do jornal Agito da Galera, em dezembro de 1992)

O CARTOLA NA BERLINDA
Eurico: 'Sem paixão o futebol acaba'

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NOTA DA REDAÇÃO: Quase 20 anos se passaram desde que o dirigente Eurico Miranda, ex-presidente do Vasco da Gama, concedeu essa entrevista exclusiva ao Agito da Galera, então ainda exercendo o cargo de vice-presidente do clube, para a seção “O Cartola na Berlinda”. Em linhas gerais, o pensamento Eurico parece não ter mudado muito durante os anos. Já naquela época era contra o clube-empresa e favorável aos campeonatos regionais. Contudo, soa hoje meio irônica a afirmação do cartola, na época, de que só acreditava em dirigentes que “não ganham nada com o futebol”. Confira.

Às vezes temperamental – “se assumir meus atos e não ficar em cima do muro é ser polêmico, então sou polêmico” – o cartola Eurico Ângelo Miranda de Oliveira, 48 anos, carioca do Catete, casado, quatro filhos, mantém uma longa relação de amor e paixão com o clube da Colina. Há 24 anos no Vasco como dirigente (começou como diretor de cadastro na gestão de Reinaldo Reis), Eurico garante: “No dia em que a razão superar a paixão, o futebol acaba”.

O cartola ajuda ou atrapalha o futebol brasileiro?

- Se ele for amador, daqueles que não ganham nada com o futebol, que têm amor pelo clube, só ajuda. De maneira alguma este tipo de cartola atrapalharia o futebol. Sou frontalmente contra o cartola que é pago pelo clube. No Vasco da Gama, onde estou desde 1968, não acontece isto. Ninguém recebe salário do clube. Não existem mecenas no Vasco. Em outros clubes, sim. Cito o exemplo do Botafogo, onde a idéia não deu certo.

O senhor se considera um bom cartola?
  - Deixo para as pessoas que militam no futebol julgar. Não cabe a mim ficar avaliando meu desempenho como vice-presidente do Vasco da Gama...

O senhor é considerado um dirigente polêmico, muitas vezes temperamental e que administra o futebol vascaíno com mão-de-ferro. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
  - Se ser polêmico é assumir seus atos, não ficar em cima do muro, então, posso me considerar um dirigente polêmico. Quanto a ser temperamental, a necessidade de ser útil e fazer algo pelo clube que gosto me leva algumas vezes a me exceder. Em algumas ocasiões sou confundido com ‘brigão’. Entretanto, me considero uma pessoa tranqüila, voltada para a minha família.

O que representa o Vasco na sua vida?
  - Uma paixão, uma enorme paixão. Tenho uma relação de amor com o clube pelo qual me identifico plenamente. A cultura do nosso futebol não permite que se separe o amor da paixão pelo clube. É o meu caso, além de dirigente, sou acima de tudo torcedor do Vasco da Gama. É claro que como dirigente a responsabilidade aumenta.

Qual é o caminho para o futebol brasileiro? O clube-empresa é a solução?
  - É administrar o futebol brasileiro com mais seriedade. Principalmente por pessoas que conheçam a fundo os problemas do esporte. Que sejam do ramo. Não adianta colocar administradores, economistas, bons advogados, enfim, pessoas capacitadas mas que não entendam nada de futebol. O mesmo se aplica em relação à escolha dos assessores. Não podem ser pára-quedistas. Quanto à questão do clube-empresa, sou contrário à idéia. A nossa cultura é diferente da européia. Lá, o assunto pode vingar. Não se pode comparar um Vasco da Gama, um Flamengo com um clube italiano como o Milan, por exemplo. No Brasil transformar o clube em empresa termina como o Botafogo do Emil Pinheiro, que só visava o lucro. Tem que saber também administrar. O lucro não pode ser a finalidade principal. No dia em que a razão superar a paixão, será o fim do futebol.

E os campeonatos regionais?
  - Sou inteiramente a favor dos campeonatos regionais. No Rio, brigo pelo mesmo número de clubes (12 no total) no campeonato de 1993. Considero uma vitória do Vasco sobre o Flamengo ou Botafogo mais importante do que vencer um Internacional ou Cruzeiro. É porque fica mais fácil ‘encarnar’ num torcedor que está próximo de nós do que pegar um avião e parar em Porto Alegre ou Belo Horizonte...

Como o cartola Eurico Miranda vê a relação torcida-futebol?
  - A grandeza de um clube está diretamente ligada à sua torcida. A combinação amor-paixão é fundamental para o sucesso do esporte. Ainda existe aquela história da camisa... O que mais admiro é o torcedor anônimo do Vasco, não os ‘medalhões’. É o torcedor que comparece ao estádio, paga o ingresso – muitas vezes sem poder – do próprio bolso, incentiva e leva o Vasco a grandes conquistas, como foi o título estadual deste ano. A estes torcedores com os quais me identifico, eu rendo as minhas homenagens. São eles que ajudam o Vasco a ser cada vez mais gigante...

(Entrevista concedida com exclusividade ao repórter Eduardo Soares e publicada na edição nº 1 do jornal Agito da Galera, em dezembro de 1992)


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